Os “burros” vão para o tecnológico?
Quando, fruto ainda dos estilhaços da Revolução de Abril, o Governo decidiu acabar com o ensino técnico, terá cometido um erro estrutural grave que, passado mais de três décadas, ainda não foi resolvido.
As Escolas Industriais e Comerciais faziam parte da política de desenvolvimento geral iniciada pela Regeneração - denominação genérica da segunda metade do século XIX - embora já antes se tivesse feito algo no panorama do ensino profissional. O País, nessa altura, como agora, precisava de técnicos, tanto mais que o processo de industrialização crescia exponencialmente. Fruto disso apostou-se num ensino virado para a componente técnica, como pressuposto essencial de fornecer quadros intermédios às empresas. Pode-se, pois, considerar que as Escolas Comerciais e Industriais foram as primeiras escolas de empreendedores em Portugal, formando, para além de profissionais especializados e qualificados, pessoas com elevada massa crítica.
No final da década de oitenta, tentou-se rectificar esta situação com a criação de uma rede de Escolas Profissionais e posteriormente com a reformulação dos cursos tecnológicos nas Escolas Secundárias. Estas alterações pretendiam recuperar o espírito das Escolas Comerciais e Industriais, com cursos vincadamente práticos, dirigidos às necessidades das empresas. A ideia era boa, no entanto, a forma como estes cursos eram apresentados, estava, completamente errado. Os cursos tecnológicos eram tratados como a via mais fácil para os alunos mais fracos - situação esta sustentada pelos próprios psicólogos de orientação vocacional das escolas – que, optavam por um curso que lhes possibilitasse entrar no mercado de trabalho a curto prazo, desvirtuando, assim, a ideia de que este tipo de curso deveria ser para quem tivesse aptidão para desempenhar funções de chefia intermédia, independentemente da sua média.
Apesar do actual Governo já ter percebido que a diminuta percentagem de estudantes nos cursos tecnológicos/formação está a provocar um atraso estrutural nas nossas empresas, essencialmente, devido ao facto de não existirem quadros intermédios profissionalmente qualificados em quantidade e qualidade adequadas às necessidades, as medidas até então tomadas têm sido, em geral, desarticuladas e inconsequente. Portugal encontra-se em contra ciclo com a maioria dos países europeus, dado que na União Europeia a maioria dos estudantes envereda pelos cursos tecnológicos. Em contrapartida, em Portugal apenas 28% dos estudantes optam pelos cursos tecnológicos/profissionais.
Este Governo pretende alterar esta situação, no entanto declarações recentes da Ministra da Educação, deixam a pairar algumas dúvidas sobre as reais intenções quanto há manutenção dos cursos tecnológicos. Há, todavia, por parte da Ministra, uma boa imagem dos Cursos Profissionais. No entanto, uma aposta neste tipo de curso pressupõe um esforço orçamental a médio-prazo, dado que estes cursos são actualmente apoiados por Fundos Europeus, o que poderá acabar no final do Quadro de Referência Estratégico Nacional (2007-2013), e a rede de Centros de Formação teria, obrigatoriamente, de ser aumentada, dado que actualmente cerca de 50% dos inscritos nestes cursos não são seleccionados por falta de vagas.
Em suma, para se conseguir qualificar anualmente os técnicos intermédios de que as empresas necessitam será necessária uma aposta forte nos cursos tecnológicos/profissionais possibilitando um aumento da oferta deste tipo de cursos e, essencialmente, alterar junto da comunidade, dos alunos e respectivas famílias a ideia, “errada”, que este é um tipo de ensino de 2.ª categoria.